#18 catalogando as minhas mudanças
desfaz acúmulos, refaz ideias. desfaz acúmulos, refaz saudade.
Estou de mudança. Saindo de um apartamento maior para um menor. Lá não tem estante e não vai caber a que eu construi ano passado. Precisei fazer uma limpa geral nos livros, nos arquivos, nos meus artesanatos e todos cacarecos acumulados.
Reencontrei um CD do Mamonas Assassinas e um do Kings of Convenience. Perguntei para o Google: alguém ainda compra CD? Ele disse que existem alguns poucos colecionadores saudosistas, mas não é uma mídia tão maneira quanto o vinil.
Decidi não jogar fora parte dos meus achados. Os CDs ainda me trazem muita alegria. Uma alegria de um tempo sem volta, quando entrar em uma loja de CDs para escutar aqueles que você não tinha era um belo rolê. Era uma conquista significativa comprar o álbum que não encontrei em MP3 pirata no Emule. A internet podia ser uma benção.
Abri também uma caixa em que guardava as ementas e a bibliografia das minhas matérias favoritas na universidade, as minhas melhores provas e as cópias escaneadas de vários textos. Prova que fiz em 2010, cara. Olha a loucura da acumuladora de papéis. Reler é reviver. Sem brincadeira, eu era mais inteligente naquela época.
Semana passada entrei na pira do método kettelskaten ou slip-box - ou simplesmente “caixa de notas”. Passei horas lendo sobre o método e procrastinando as minhas entregas profissionais. Um método criado por Niklas Luhmann (1927-1998), sociólogo alemão, para não procrastinar e escrever. O cara era uma máquina de produtividade acadêmica e com um alcance intelectual assombroso.
(Sim, tinha vários textos dele escaneado na minha caixa de ementas empoeiradas.)
Para o acadêmico alemão, pensar é escrever. Ele não apenas anotava, mas também catalogava todas as suas anotações. A catalogação permitia a conexão entre diferentes anotações e eram essas interligações que geravam as ideias que iriam aparecer em seus escritos. O método, portanto, facilitava a transformação de notas em pensamentos complexos e acabava por fornecer um mapa mental do raciocínio prolífico do escritor. Uma espécie de segundo cérebro.
A simplicidade esconde a genialidade do método: é a padronização - note, não é a rotina ou repetição, é método - que viabiliza a criatividade. Parece óbvio, mas não lembro se alguém me falou isso quando eu era uma estudante acumuladora de artigos. Manter essa consistência é e sempre foi o meu maior desafio. Inspirada, criei um sisteminha kettelskaten no Notion, que já era meu repositório de notas aleatórias, para me ajudar com os meus projetos de escrita. Mas sei lá.
Longe de mim essa pretensão de desenvolver a genialidade do Luhmann. Gosto mesmo é de aprender sobre como aprender mais. Assim ganho mais ferramentas para parar de acumular e encontro mais foco para criar.
Passei horas esvaziando a caixa de papeis e pensando em como superar o acúmulo, catalogar anotações e conectar esses raciocínios. Reler algumas provas antigas me fez perceber as repetições de várias ideias e resgatar algumas referências “ocultas". É um lado bom de mudar: reencontrar anotações e estabelecer novas conexões.
Bora sem método mesmo.
📌 LInQsss
(Links Incríveis Que Salvarão a Sua Semana)
Adoro espaços pequenos, mas Never Too Small.
Essas imagens dos bebês elefantes no norte do Quênia fizeram minha semana.
Se os escritores clássicos tivessem Twitter… (os clássicos seriam um fio).
Esse fio no Twitter de um rolê ferranter pela Itália. Invejei.
Essa semana estou em um relacionamento sério com o quarto e último livro da tetralogia napolitana. Seríssimo.
Essa entrevista com as atrizes protagonistas do seriado My Brilliant Friend. É muito bizarro como elas são parecidas com as suas personagens. Ou é apenas marketing? Nunca descobrirei e tá tudo bem (~é sobre isso).
Buscando ler outras obras sobre mulheres péssimas? Saca só essas dicas.
Mudar é bom, mas às vezes…..