A Joan Didion era uma lacuna de leitura que demorei para preencher (apesar das mil recomendações, de ficar louca com o documentário sobre a vida dela e as várias entrevistas que li após assistir). Selecionei o livro na estante e, coincidentemente, essa citação do ensaio Sobre ter um caderno, apareceu na newsletter Vou Te Falar:
“É um ponto difícil de admitir. Nossa criação vem de uma ética segundo a qual os outros, quaisquer outros, todos os outros são por definição mais interessantes do que nós mesmos, que fomos ensinados a ficar retraídos, a praticamente nos apagar”.
O lugar onde esta lógica é invertida é nos nossos cadernos, diz Didion. É quando escrevemos que o nosso eu é revelado.
De um jeito atrapalhado e exibicionista, essa newsletter é tipo um caderno. Tipo, porque nem quase tudo se revela aqui. Esse jogo de pique-esconde não deixa de ser uma das diversões de escrever e se revelar.
Inspirada após uma aula do curso de Escrita de Não Ficção com a Ana Rusche, escritora que realiza pesquisa de Pós-Doutorado a respeito de ficção científica e mudança climática (!!) na USP, rascunhei um ensaio sobre a história das cozinhas. A professora comentou o texto animada e perguntou se eu havia pensado no meu público leitor e aonde eu pensava em publicar. Era o óbvio. Mas nesse devaneio, anotei no meu caderno: não pensei em nada, pensei apenas em entender o incômodo.
Uns dias antes a Ana Holanda, estava no Bom Dia Obvious falando sobre escrita afetuosa. No auge do meu definhamento durante a pandemia, sem condição de sustentar uma terapia online, recorri a autoajuda criativa da Julia Cameron (como já falei aqui mil vezes) e o livro Como se encontrar na escrita, da Ana Holanda veio junto no pacote. Não li. Então, fiquei feliz em ouvi-la, quem sabe seria dessa vez que selecionaria na estante e renovaria o hábito da escrita-terapia.
Mas daí me ocorreu o óbvio. A leitura de Rastejando até Belém. A discussão sobre os riscos da demarcação da autoria. A lembrança de que chega de escrita de cura ou sei que lá. Eu estou aqui, mas também estou um pouco cansada de mim.
Os outros me parecem infinitamente mais interessantes.
Outros coadjuvantes.
Falei do nosso papel de coadjuvante da história na semana passada, e esqueci de comentar a vitória merecidíssima do Troy Kotsur da estatueta de Melhor Ator Coadjuvante pela sua atuação em CODA, primeiro ator surdo a ganhar um Oscar.
Honestamente, não lembro a última vez que um personagem me fez rir e chorar tanto. Assistam CODA - No Ritmo do Coração, sessão da tarde cinco estrelas.
📌 LInQsss
(Links Incríveis Que Salvarão a Sua Semana)
Um novo sonho culinário, uma noite de dumplings ao redor do mundo.
A tendência é se adolescentizar. Mas melhor nem.
Não assisti metade dos documentários que gostaria no festival online É Tudo Verdade. Mas fica a lista para assistir quando der.
As pessoas que decidem as entradas para a história e os lados da história.
Partiu rolê na capital da Pérsia antiga.
Minha irmã está mochilando e publicou o primeiro registro da sua aventura na newsletter Improviso Cotidiano - segue lá!