Uma Páscoa, um Carnaval no feriado de Tiradentes. Uma semana de 4 dias úteis, outra de 3 dias. Para melhorar, após a sequência de feriados prolongados, resolvi passar algumas semanas na casa dos meus pais em Vitória, Espírito Santo. Por isso esse hiato imprevisto e mais prolongado do que eu calculava. Não sabia, mas eu precisava descansar do mergulho interno que o hábito de escrever aqui me provoca.
Afinal, eu adoro escrever aqui. Mas dá muito trabalho e pouco retorno - e tá tudo bem. O propósito dessa newsletter é não ter propósito. Mas eu precisei descansar dessa escrita despropositada e deixar o meu pragmatismo emergir.
Perdi o ritmo. Mudei a rotina. Desfiz alguns costumes. Fiz algumas descobertas. Acumulei hiperlinks. Interrompi vário insights. Quase divulguei essa newsletter no meu Instagram. Desisti.
Comecei a escrever sobre o recente tsunami de conteúdo sobre golpistas nos streamings. Abandonei a reflexão, pois estava sem fôlego.
No avião saindo de Brasília, retomei o fôlego e comecei a ler O Ano do Macaco, da Patti Smith. Nas primeiras páginas ela recorda a leitura dos assassinatos de Sonoma descrito por Roberto Bolaños em 2666 e eu me deu vontade de reler essa obra prima do autor chileno. Leitura tão difícil, e ao mesmo tempo inesquecível.
Coincidência ou não, ao assistir aos primeiros episódios de Shining Girls - thriller protagonizado pelos meus atores favoritos, Elizabeth Moss e Wagner Moura - só conseguia pensar nessa passagem da obra do Bolaños. Eram crimes reais ou fictícios?
No seriado, a personagem da Elizabeth Moss sobrevive a uma tentativa de assassinato e tem sua memória completamente fragmentada por esse trauma. A história avança e deixa os expectadores na dúvida: seria a memória da protagonista ou a sua realidade que está fragmentada?
Em um tom aparentemente menos violento, essa fragmentação pós-traumática é a substância de outro seriado mega intrigante, também disponível na Apple TV+, Severance. Há tempos não assistia nada tão esquisito. Nessa distopia, o personagem de Adam Scott escolhe passar por um procedimento de ruptura mental após viver uma experiência traumática inibidora de sua capacidade produtiva. Uma premissa simples, levada ao extremo: e se fosse possível realizar uma separação completa entre a nossa vida profissional e pessoal?
Qual seria a nossa vida verdadeira? Quem seríamos, afinal?
Visitar a cidade em que nasci é reencontrar memórias as quais muitas vezes não me reconheço. Sim, eu ainda sou aquela criança que se jogou no chão chorando porque não recebeu o que queria. Mas também não sou. Sim, eu ainda sou a menina que desistiu do ballet para jogar basquete. Mas também não sou. Sim, eu ainda sou a pré-adolescente que jogava capoeira e não percebia que estava com cecê. Mas também faço piada dos constrangimentos causados pelo meu odor corporal.
O corpo às vezes denuncia. A mente às vezes engana.
Escrever ajuda. Mas a memória nem sempre.
📌 LInQsss
(Links Incríveis Que Salvarão a Sua Semana)
Porque esquecemos tudo, mas as músicas permancem na nossa memória?
Encantada por essa newsletter que compartilha links de uma internet selvagem.
Por muito tempo sonhei em viver em uma van. Desisti dessa ideia assim que entrei em uma. Segue um relato de quem viveu e se arrependeu.
Fui absorvida por essa entrevista da Rayne Fisher-Quann, uma jovem influencer-ensaísta.
Dicas do Austin Kleon para ler como um artista.
Por sua vez, ele pediu dicas de livros filósoficos sobre o impacto do dinheiro nas nossas vidas e o Twitter respondeu.
Falando na rede social do Musk, como a gente é iludido por ela, né?
A pandemia acabou com tanta coisa, inclusive com a nossa ambição.
Não sei vocês, mas é isso que me vem a mente quando falo de amor verdadeiro.