Duas newsletter em uma semana para compensar o hiato?
Não. A gente não trabalha com recompensas aqui.
Mas esse final de semana, dias 14 e 15 de maio, vai rolar a Feira Motim!!!!!
Não. A gente também não trabalha com publi aqui.
Na verdade, a gente nem trabalha aqui. A gente (eu) apenas conta uns causos e compartilha referências. E a Feira Motim é o lugar para buscar novas referências e inventar novos causos.
Não à toa faxinei a casa e vasculhei o bolso de roupas suja buscando moedinhas perdidas. Vai ser difícil resistir ao impulso de adquirir produtos legais de artistas independentes. Na última feira pré-pandemia, fui apenas roletar e sai de lá com uma caneca do Renato Moll, uma camiseta e uma zine da Vulva Revolução, bottons do Gomez e o livro QP, da Power Paola, artista colombiana que acompanho há tempos.
Já falei aqui sobre essa minha mania de comprar um livro em quase toda nova cidade que visito. Foi assim que adquiri Vírus Tropical, uma espécie de autobiografia dessa artista que ousa reconhecer seu poder em seu nome artístico. Lembro com exatidão o momento em que peguei o livro na vitrine de uma livraria de esquina em Bogotá. Foi a leitura que me fez companhia em um hostel horrível perto do Parque Tayrona.
Horrível pois ficava isolado, na beira de uma praia de mar revolto e cheio de gringo, quase nenhum colombiano. Já era o final da viagem, o dinheiro estava acabando e não tinha como sustentar o bate-e-volta para jantar na cidade sem comprometer nossa visita ao parque. O jeito era comer o que estava no cardápio do restaurante do hostel não-exatamente-colombiano: batata-frita e burritos. Apenas. Juro. Não tinha nem arepa. Quem dirá um camarãozinho ou uma água de côco. Pelo amor de Iemanjá.
Um gringo mais simpático tentou nos alertar sobre o risco que estávamos correndo. Mas não havia outra opção a não ser passar mal.
Mergulhar na saga familiar dessa escritora/cartunista latino americana atenuou meus dias de intoxicação alimentar na praia da gringolândia. Se os médicos da mãe da Paola, conforme o livro relata, descartavam a possibilidade de uma gravidez após o procedimento de ligadura de trompas dizendo que o inchaço na sua barriga era apenas o sintoma de um vírus tropical e não um bebê que viria a ser Paola - o ano era 1976 e médicos sempre foram médicos, não é mesmo -, eu estava ali vivendo uma outra experiência de vírus tropical bem peculiar que inchava e esvaziava violentamente a minha barriga. O vírus da comida gringa ultraprocessada e mal armazenada.
Difícil dar conta de tanta maionese e chilli à beira mar. Pelo menos fiquei feliz de ter uma nova amiga para me entreter em meio ao tédio escatológico do fim das férias colombianas.
Demorou anos até eu encontrar algum livro da Power Paola no Brasil. Foi justamente na Feira Motim de 2019, quando fiquei alguns minutos no estande da Lote 42 trocando ideia com Cecília, expositora e editora do selo independente. Quando folheei a edição brasileira da graphic novel que narra a história de um relacionamento amoroso da escritora colombiana, notei que a tradutora era, justamente, Cecília Arbolave, a pessoa que estava ali na minha frente. Não titubeei, comprei o livro e pedi para ela autografar.
Ela não entendeu nada. Afinal, era "apenas" a tradutora. Mas, por fim, escreveu, bem fofa:
Espero que goste de conhecer o universo da Paola!
Eu gostei muito. Obrigada por traduzir o universo da Paola para os leitores brasileiros, Cecília.
Enfim. Vá roletar na Feira Motim e trocar ideias com artistas, escritores, tradutores e investir suas moedinhas na produção de uma galera irada que vem sustentando o corre sinistro de ser um profissional criativo nesse país.