#23 ha podido ser mejor, pero moro no Brasil.
país tropical esquecido por Deus e que não cuida nem da Ciência nem da Natureza. (mas que beleza)
Fui à Feira Motim e comprei um pin da moda e um presente para a sogra. Conheci a galera da Revista Pé-de-Cabra, levei o Vida Besta mas fiquei na vontade de comprar o Billy Soco de vinil… Me apaixonei e levei para casa o livro Puu naki thea oni: o conhecimento yanomami sobre abelhas, uma apresentação bilíngue e ilustrada da pesquisa científica sobre abelhas sociais desenvolvida por jovens pesquisadores yanomamis na aldeia Piaui, região do Toototopi, Terra Indígena yanomami.
Quando encontro livros que valorizam os saberes brasileiros fico até emocionada. É como se fosse um vislumbre, um lembrete do país do futuro, o Brasil que a gente poderia ser se os governos levassem a sério a produção científica e artística nacional. Infelizmente, um gringo libertário e bilionário ainda ganha mais atenção.
Em 2017 eu interrompi minha tentativa de seguir a carreira acadêmica, após a experiência traumática do cotidiano de escrever a dissertação de mestrado, tão solitário e permeado de inseguranças. Uma interrupção, pois não deixo de flertar com a possibilidade de voltar a fazer ciência. Um mestrado fora, um doutorado talvez. Mas os relatos que ouço de amigos cientistas são desanimadores.
Eis que caminhando na Feira Motim vejo um estande mais sóbrio e com um livrinho cujo título me fez rir à distância, Diário de um doutorado - se é para escrever para ninguém ler… eu escrevo um diário e não uma tese.
Troquei ideia com a autora, Melina Vaz, uma artista-cientista-psicóloga que publicou um diário do seu doutorado em formato de livro. Em poucos minutos, com a fala acelerada de gente elétrica que faz uma segunda graduação enquanto faz uma pesquisa de doutorado, ela me vendeu sua arte. Na verdade, ela já tinha me fisgado pela capa (como dizia o marketing certeiro do seu estante), pois vivo no Brasil e me compadeço dos mais necessitados (risos nervosos). Li “doutorado” e pensei, mesmo quebrada nesse momento: uma cientista vendendo arte, preciso ajudar (risos tristes).
Mas a Dra. Melina já defendeu a tese. Criar o Diário foi um mecanismo que a ajudou a desatar os nós da sua linha de raciocínio durante a investigação científica. Agora ela quer compartilhar o relato autobiográfico do cotidiano científico de produzir uma tese e se tornar uma cientista comportamental em um país que não valoriza a ciência e a educação. Faz isso com muito bom humor, reflexões astutas sobre os perrengues de se fazer ciência e traços propositadamente ordinários.
Há uma experiência estética na ciência que só parece acessível para quem consegue entendê-la.
Ao criar um diário como subterfúgio para lidar com o incômodo que sentia no engessamento da escrita científica, ela cria uma ponte para reduzir a distância entre o fazer e o dizer científico interdisciplinar. Uma ponte que nos recorda que a ciência é feita por gente, não por gênios ou algoritmos. Percorrer essa ponte com a Melina nos fazendo rir na cara dos perrengues, é um alento. Seus desenhos tornam o cotidiano do cientista mais divertido e, consequentemente, também a ciência fica mais acessível.
Como a autora esperava, narrar esse cotidiano dá mais sentido aos seus achados científicos. O livro funciona, literalmente, como um guia de leitura da tese de doutorado da Dra. Melina Vaz, agora transformada em livro. Um convite ao leitor para participar de um experimento: se a pesquisadora for mais autêntica ao relatar os processos angustiantes e maravilhosos do trabalho científico, o leitor ficaria mais interessado em conhecer a ciência produzida no país? Quem sabe o leitor acabaria mais inspirado a cooperar com os cientistas na defesa da ciência em tempos de obscurantismo também?
A Doutora se enganou se achava que ninguém ia ler nem a tese nem o Diário. Ler o Diário me deixou curiosa para ler a sua pesquisa experimental sobre a relação entre honestidade e cooperação. A leitura também me deu mais ânimo para reconsiderar a empreitada acadêmica. Talvez daqui a pouco.
Quanto ao convite feito pela artista-cientista-psicóloga à resistência a uma ciência chata e sem vida, já está aceito: apoiando e divulgando iniciativas de imaginar um jeito diferente de fazer ciência (como o Diário!) e, em outubro, votando em defesa da ciência.
📌 LInQsss
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