#25 tudo permanecerá transformando
crescer é meio deprê | viva gilberto gil | dica quente | ouvindo coisas estranhas | letrux em domingo de climão | curadoria de newsletters de curadoria | metamorfose digital
Eu queria aprofundar a viagem e conectar as peças que deixei solta no último post. Mas o twitter me lembrou: porque aprofundar uma reflexão velha se posso elaborar novas reflexões interessantes?
Os próximos meses serão intensos em entregas profissionais. Precisarei de fôlego para aprofundar essas outras reflexões que irão pagar meus boletos. Já estava desapegada da regularidade desse projeto de newsletter, agora vai ficar mais difícil. Mas já estou apegada a esse espaço e quero adaptar o ritmo de publicação e a dinâmica de escrita a esse novo contexto pessoal.
Pensei em mesclar uma publicação quinzenal de curadoria de links maneiros, com outra quinzenal de reflexões aleatórias sobre cultura, comportamento, política e viagens. Quem sabe também sai da gaveta as resenhas mensais que sempre planejo e nunca publico?
Bora tentar.
Crescer é meio deprê.
Não sou das maiores fãs de Murakami. Li apenas a trilogia 1Q84, anos atrás. Ainda assim, é uma leitura envolvente e aconchegante. Queria ler um romance de formação não ocidental. Além disso, qualquer história que se passa na década de 1960 desperta minha curiosidade. Fiquei envolvida com Norweegian Wood. No bingo do Murakami, o livro mais autobiográfico do escritor japonês mais famoso da atualidade oferece ao leitor: uma personagem feminina misteriosa, várias ligações inesperadas, discos de jazz (e rock, óbvio), insatisfação com a vida urbana, rolês em Tóquio a noite, estações de trem, adolescentes precoces e cenas de sexos estranhos. Seria Turo Watanabe um Holden Caulfield ou um Gatsby japonês? Apesar das constantes referências, não. É mais triste que isso. Para ficar menos melancólico, vale ler ouvindo a playlist do livro.
Viva Gilberto Gil!
Por outro lado, Gilberto Gil está ai para lembrar que envelhecer pode ser bom demais. Essa entidade brasileira chegou aos 80 anos nesse expresso 2022. Para coroar esse marco, tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras. Está comemorando o aniversário fazendo turnê na Europa com a família. E que família! Dá para se infiltrar na rotina de ensaios para a turnê familiar no seriado imperdível da Amazon - ri, chorei, cantei, dancei. Depois de maratonar, passei uma semana cantarolando Sereno sem parar. Intercalado com Baba Alapalá. O Canal Brasil ainda ofereceu uma programação inteira com o Gil: Doces Bárbaros (1978), Corações a Mil (1981), Viva São João (2002). E daí alguém chamou "hey amanda" e respondi “reaaaalce”. Para completar uma exposição virtual em comemoração. Nunca canso de ouvir Gil.
A responsabilidade pública pelo fomento da ciência é parte do projeto civilizatório não só para garantir um futuro ao Brasil, mas à humanidade, já que sem o Brasil é quase impossível que haja o humano. Promover e disseminar a ciência é um projeto cultural que aposta no melhor do humano.
Gilberto Gil sobre como a ciência e a cultura vão nos tirar da escuridão.
Ouvindo coisas estranhas.
Essa semana intercalei família Gil com Kate Bush. Dá licença, pois faço parte da galera jovem da internet obcecada com Kate Bush após assistir a 4ª temporada de Stranger Things. Não, eu não conhecia a cantora britânica. Sim, apertei o replay várias vezes na cena de Max fugindo do Vecna ao som de Running Up That Hill. A música lançada em 1985, parece feita especialmente para a série (ou seria o contrário?). A sincronia é profunda. O resultado: Kate Push no topo das paradas globais (amo essa expressão: topo das paradas). Óbvio que já fiz a minha playlist de músicas que me salvariam do domínio de Vecna. Quer dizer, o algoritmo que fez a seleção e apareceu umas músicas meio nada a ver misturadas a músicas que com certeza seriam minha salvação. Tipo Me Espera.
Letrux em domingo de climão.
A última vez que Letícia esteve em Brasília foi na época de Letuce. Aguentei o frio e o atraso de três horas do Festival PicNik. Era domingo, mas quem quer dá sempre um jeito. Passei quase dois anos só fazendo planos para ver essa deusa ao vivo. Não desisti e valeu demais. Letrux é um espetáculo.
Dica para reduzir a temperatura.
A Giovana Girardi fez o que eu sempre quis mas não nunca tive talento: mandou um e-mail para a Rádio Novelo perguntando se eles tinham planos de produzir um podcast sobre mudança do clima. Assim nascia a ideia do podcast Tempo Quente. A jornalista ambiental quer responder a uma das perguntas mais difíceis sobre a crise climática: quem está ganhando com o negacionismo? Entrevista lobistas, especialistas, tomadores de decisão, pessoas impactadas. Visita a cidade que ainda é estruturada para defender o carvão, investiga a destruição da Amazônia, vem a Brasília entender a feroz politicagem sustentada pelo mídia training dos negacionistas. O último episódio bateu forte aqui. Durante o mestrado eu tentei entender os esforços institucionais para a construção de capacidade adaptativa no governo federal. A conclusão era de que os esforços estavam sendo minados por interesses difusos. Tempo Quente escancara esses interesses, antes disfarçados e hoje amplificados por esse governo abjeto.
Curadoria de newsletters de curadoria
Vou Te Falar já tem uma edição especial só de curadoria.
A Lalai avisou que também vai fazer listão de referências bem alternativas.
Dia Sim, Dia Não relembra que a gente entra aqui na internet porque todo mundo adora links e dicas.
Minha principal referência para essa nova edição focada em curadoria foi o Nexialist - que, curiosamente, tem também um logo cerebral. Em inglês.
A Gaia Passarelli faz textão, faz curadoria e deu uma aulão, ABC da Newsletter, que me incentivou a repensar minha estratégia de publicação sem perder a consistência e a ternura.