O turbilhão dos últimos meses gerou muita desorganização. Pedaços de textos e fragmentos de ideias que espalhei por aí. Fim de ano é tempo de reorganizar, não é mesmo? Respirei e juntei os cacos. Não lembrava que tantos estavam nessa newsletter. Queria lembrar quem era no início do ano e well, how did I get here?
Nos primeiros seis meses nadei em um mar de nãos. O que tinha engatilhado para 2022 naufragou rapidamente. Precisei me resgatar. Tentei a escrita. Sem condições de ir à terapia. Tentei as amizades. Pois bem, comecei a receber alguns sims. Enquanto me reinventava, meu segundo semestre foi marcado por uma perda.
De que adianta tanto tentar, tanto querer, tanta meta, tanto sim, quando a vida é implacável?
No início do ano compartilhei aqui uma lista de quereres para 2022. Para me humilhar no fim. Palavras da amanda-de-janeiro. Abaixo o que eu, a amanda-de-dezembro, percebi que não cumpri em 2022. Ou sim.
Suei mais e de uma das formas mais constrangedoras possíveis: correndo, na esteira e na rua.
Se reduzi a quantidade de carne na minha dieta, a culpa foi da inflação.
Aprendi espanhol. Com muita enrolação e in loco. Querem dicas de curso?
As séries que mais fritaram a minha cabeça esse ano foram Severance, Yellowjackets e The White Lotus. Conversations With Friends foi legal, mas nada que chega aos pés das atuações em Normal People. Euphoria começou insano, terminou confuso. Mergulhei em mil séries sobre golpistas de todos os tipos, desde Inventing Anna até We Crashed. Assisti a última temporada de The Handmaids Tales na birra. Se for para ver novela, eu revejo Pantanal.
Li mais do que planejei. Em especial livros de não ficção - alguns com a ajuda do Clube Bússola da Editora Dois Pontos (altamente recomendável).
Fiz um curso de escrita. Acompanhei mais newsletters. Domestiquei meu algoritmo nas redes sociais para conteúdos editoriais e do booksgram.
Escrevi. Mas desde setembro não publico nada aqui.
Viajei e não me endividei. Pois fui para a Argentina, não para a Itália.
Não fiz um retiro de ioga. Nem fui para o Monte Roraima. Mas tentei.
Não aprendi nenhum instrumento. Mal tentei.
Exerci minha curiosidade. Fui a lugares estranhos. Puxei assunto com desconhecidos. Alguns se tornaram minhas novas melhores amigas. Outros descobri serem antivax - o risco de perguntar demais.
Votei no Luiz Inácio Lula da Silva. Assisti eufórica a sua terceira eleição.
Ouvi mais música. Comecei com o ano com Prince na cabeça, quase um esquenta para RENAISSANCE. Fui envolvida. Decorar as versões do Seu Jorge para os clássicos do David Bowie me salvou em tardes ansiosas. Apaixonei na Rosalia, que me preparou para minha temporada argentina. Me perdi em Buenos Aires ouvindo Too Much. Termino o ano na Maresia.
Mais do que cumprir listas, esse ano perdi e adiei listas. Adaptei-me. Parei para apreciar o que deu para fazer. Fiz algumas colagens. Queria ter ido à Chapada. Sabedoria popular avisa, nem sempre querer é poder. Paguei mil patos, engoli vários sapos, mas cacei com gato e fiz valer os pássaros na mão.
Segue a lista de (alguns) acontecimentos que fizeram o meu ano e não pude prever ou listar, mas que me trouxeram até aqui.
Deitei na rede com o Jorge, meu melhor amigo buldogue, pela última vez.
Mudei para perto do lago Paranoá e agora as capivaras são minhas vizinhas. Testemunhei emocionada o Ato Pela Terra em Brasília. Pulei carnaval. Virei uma missionária ferranter. Peguei leve comigo e quase passei do ponto.
Trabalhei e aprendi com quem é referência para mim. Uma gripe me deixou afônica. Voltei à São Paulo e fiquei com saudades. Esperei Letrux ao vivo. Escrevi uma publicação maneiríssima sobre fundações na área de clima.
Caminhei sozinha por Buenos Aires. Dancei tango. Comemorei o aniversário do falecido Maradona em um show de cumbia na rua. Meu pé inchou. Não sei se de tanto caminhar, dançar ou álcool.
Chorei na exposição da Frida. Fui a parada gay. Peguei uma chuva torrencial no show da Lorde no Primavera Sound. Tive cãibra pela primeira vez. Outra gripe me deixou mal e sonhei que uma caneta bic obstruía meu nariz.
Fui a Patagônia. Fiz um minitrekking na Geleira Perito Moreno. Vivi um dia perfeito na trilha até a Laguna de los Tres. Fiquei hospedada em uma tiny house com vista para o Fitz Roy. Sobrevivi ao trekking de Torres del Paine.
Vi cada jogo do Brasil na Copa do Mundo em uma cidade diferente. A seleção brasileira perdeu no dia que voltei para casa. Chorei do meu sofá. A derrota, o retorno - vai saber.
Em resumo, relaxei o maxilar e nadei contra a maré.
Cheguei morta, mas ainda tô bonita. Preparada para começar o ano na rave do Lula.
Vemnimim 2023.