O negócio é o seguinte, eu aproveitei o último feriado como não aproveitava há quase 2 anos. O que aumentou exponencialmente a quantidade de tarefas que deixei acumular para essa semana. Agora, neste exato momento, eu devia estar lidando com essas outras mil tarefas pendentes que de fato pagam os meus boletos. Mas não. Eu estou aqui reescrevendo um post da newsletter.
Ou procrastinando. O que você preferir.
As minhas reflexões para o ano novo chegaram com antecedência. Acho que esse foi o segundo efeito colateral mais intenso de ter tomado a 2ª dose da vacina contra o coronavírus no fim de outubro. Quase comprei um planner para 2022, inclusive. Eu sei, faltam várias semanas para virada de ano e o vírus ainda tá circulando por ai. Mas qualquer luz no fim do túnel que a gente consegue enxergar durante essa bad trip escrota em que a gente se meteu é tão libertadora.
Inicialmente, havia rascunhado para esse post algumas reflexões sobre a sociedade do cansaço. A GNT lançou uma série inspirada no livro de Byung-Chul Han mês passado. Não assisti, mas os produtores da série estiveram no Bom Dia, Obvious e no Mamilos, alguns dos meus podcasts rotineiros. Um livrinho tão curtinho, de impacto tão significativo e de repercussão tão sintomática.
Eu li no fim do ano passado e logo em seguida li A Vida Não é Útil do Ailton Krenak. Comecei e terminei 2020 lendo Krenak (fica esse gancho para o próximo post). Já 2021, eu comecei lendo e percorrendo O Caminho do Artista. Sim. Autoajuda criativa.
Essa sequência foi toda muito espontânea. Às vezes eu tento, mas não consigo planejar com antecedência a ordem com que leio livros. Ao mesmo tempo que, olhando para trás, fez todo o sentindo essa sequência.
O filósofo alemão de origem coreana me abriu os olhos para o quão tenebrosa é a “sociedade do desempenho” em que vivemos, que beneficia grandes corporações capitalistas em detrimento da nossa humanidade. O pensador e escritor indígena me inspirou profundamente a ter a coragem de ser radicalmente viva, "e não ficar barganhando a sobrevivência", mesmo nessa bad trip pandêmica. A professora e autora americana me ensinou a melhor ferramenta para recuperar um contato mais íntimo e atencioso com o cotidiano: o ritual das páginas matinais.
Mesmo que sem muita consistência da minha parte, apenas se esforçar para tentar cumprir com todas as atividades sugeridas pela Julia Cameron, foi bem útil para me destravar. Consegui estabelecer, mesmo que meio sem jeito, uma rotina criativa esse último ano. Foi o que me manteve sã quando a vacina ainda parecia um sonho distante.
Juro que eu não achei que fosse cantar baianidade nagô com uma galera sentada ao redor da mesa de plástico de um bar pé sujo ainda esse ano. Mas já aconteceu. Vai acontecer de novo.
Daí, quem sabe, um dia a paz vence a guerra e viver será só fazer arte e festejar.
E descansar sem se culpar ou cair na armadilha de procrastinar.
Felizmente, não estou sozinha na nóia da check list eterna. Rir para não chorar.
Estou querendo muito esse planner 2022 da Todavia - o que acham? Depois de mil anos usando caderninhos, esse ano usei apenas o Notion para organizar minhas ideias e afazeres. Mas penso que retomar o planner físico vai me ajudar a renovar minha atenção das telas.
Para me ajudar a focar sem perder a ternura durante a pandemia eu criei uma playlist com o que há de melhor de latinidades no canal My Analog Journal. Há várias pérolas incríveis no canal, tipo jazz japonês ou soviético. Mas a cumbia psicodélica foi o que me conquistou. Trabalhar mexendo os ombrinhos é muito bom.
Precisa de uma ajudinha para realizar um desbloqueio criativo? Os livros do Adam J. Kurtz estão em promoção na festa do livro da USP.
Curiosamente, semana passada terminei de assistir o difícil e maravilhoso Cenas de Um Casamento na HBO Max. Tem uma cena importante em que o Jonathan, personagem do Oscar Isaac, revela a Mira, interpretada pela Jessica Chastain, que a sua terapeuta recomendou a prática das "morning pages". Melhores ferramentas terapêuticas: escrever e assistir DR dos outros.
Enquanto voltamos a interagir socialmente, não custa nada lembrar e repetir: respeite o seu tempo e o tempo do outro.
Eu tardo, eu falho, e acabo realizando de qualquer jeito. Pronto. A quinta já foi. Bora produzir mais.